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ENTRE AVENTAIS E COROAS: a Trama da IndependĂȘncia

  • Foto do escritor: MĂĄrio Alves.'.
    MĂĄrio Alves.'.
  • 9 de set. de 2024
  • 3 min de leitura


Nas primeiras décadas do século XIX, o Brasil era um gigante de potencial reprimido. Sob as ordens de Lisboa (Portugal), tudo parecia imóvel, mas nas entranhas da sociedade colonial, algo borbulhava. E não era só o povo cansado das amarras ou os novos ventos de liberdade que sopravam desde as revoluçÔes americana e sa. Nas sombras dos salÔes e nos encontros discretos, os maçons desenhavam um plano audacioso. Entre eles, destacavam-se nomes como José Bonifåcio, Gonçalves Ledo, e o próprio príncipe regente, Dom Pedro I.

A maçonaria brasileira, Ă  Ă©poca, era uma organização de elite, conectada aos ideais iluministas que jĂĄ haviam incendiado o mundo ocidental. Mas, ao contrĂĄrio de outras revoluçÔes, no Brasil o caminho para a independĂȘncia seria feito com sutileza, com uma costura complexa de alianças e influĂȘncias. Era preciso agir com cautela. A independĂȘncia do Brasil nĂŁo foi um rompimento abrupto e revolucionĂĄrio, com grande guerra civil, mas fruto de revoltas pontuais e uma "negociação cuidadosa," onde diversos atores, muitas vezes com agendas prĂłprias, tiveram de convergir.

A loja maçÎnica "ComĂ©rcio e Artes", no Rio de Janeiro, era o epicentro desses encontros. Ali, o jornalista Gonçalves Ledo e o lĂ­der polĂ­tico JosĂ© BonifĂĄcio se cruzavam, nem sempre de acordo, mas compartilhando o mesmo ideal: a autonomia do Brasil. Ledo, um radical entusiasta das ideias republicanas, queria uma ruptura rĂĄpida com Portugal. JĂĄ BonifĂĄcio, o hoje conhecido como “Patriarca da IndependĂȘncia”, acreditava que o caminho mais seguro seria a monarquia, com Dom Pedro I como lĂ­der de um Brasil autĂŽnomo. O contraste entre os dois homens refletia as prĂłprias tensĂ”es internas da maçonaria e da sociedade da Ă©poca.


A sociedade brasileira, dividida entre escravizados, libertos e a elite colonial, também estava em ebulição. O povo, ainda alheio aos detalhes dos conchavos políticos, ansiava por mudanças, embora sua voz fosse frequentemente silenciada pelos interesses das classes dominantes. Mesmo assim, os movimentos populares, muitas vezes catalisados por publicaçÔes subversivas e debates em círculos de intelectuais, contribuíram para o fervor crescente. As ruas começavam a sussurrar o que nos salÔes secretos jå se gritava: o Brasil não poderia mais ser uma extensão de Portugal.

Em meio a tudo isso, estava Dom Pedro I. Educado, mas moldado pelos interesses polĂ­ticos, o jovem prĂ­ncipe era uma peça crucial nesse tabuleiro de xadrez. Se por um lado Ledo e BonifĂĄcio tentavam convencĂȘ-lo de seus respectivos projetos de nação, por outro, sua esposa, Princesa Leopoldina, exercia um papel essencial. Ela nĂŁo era apenas a princesa vinda da Europa para cumprir um papel decorativo. Dona Leopoldina, erudita e estrategista, tornou-se conselheira polĂ­tica, uma das poucas vozes que Pedro realmente escutava com atenção.

Foi Dona Leopoldina, de fato, quem assumiu o governo enquanto Pedro viajava. Em uma de suas cartas ao marido, ela foi direta: "O momento Ă© agora. Declare a independĂȘncia antes que seja tarde." A influĂȘncia da princesa foi decisiva para que o “grito” de independĂȘncia fosse dado no momento certo, numa mistura de circunstĂąncias calculadas e de pressĂŁo popular. Em 7 de setembro de 1822, Ă  beira do rio Ipiranga, em condiçÔes controversas e apĂłs muita costura polĂ­tica, Ă© entoado o espĂ­rito “IndependĂȘncia ou Morte”.


O processo, contudo, nĂŁo foi sem atritos. A maçonaria, que inicialmente unia homens como BonifĂĄcio e Ledo, viu-se tambĂ©m fragmentada. Ledo, com sua visĂŁo mais republicana, se afastou do processo, desiludido com a permanĂȘncia de Pedro no trono e a condução do novo Brasil. BonifĂĄcio, por sua vez, enfrentou resistĂȘncia dentro da corte e acabou afastado. No fim, a maçonaria desempenhou seu papel como o catalisador das ideias, mas as disputas internas e o jogo de interesses polĂ­ticos transformaram o projeto de nação em algo muito alĂ©m dos sonhos originais.

E a sociedade? Esta foi, como de costume, a Ășltima a colher os frutos da independĂȘncia. As promessas de liberdade, igualdade e fraternidade nĂŁo se concretizaram de imediato. O Brasil, apĂłs a independĂȘncia, permaneceu com profundas desigualdades sociais e o sistema escravagista continuou a alimentar a economia. A independĂȘncia, em muitos aspectos, foi uma vitĂłria para os poderosos. Isto Ă©, uma independĂȘncia de retorica polĂ­tica, sem profundas revoluçÔes, mantendo amarras sociais.

Assim, ao olhar para o 7 de setembro, Ă© preciso enxergar alĂ©m do mito. Sim, houve heroĂ­smo, houve audĂĄcia, mas tambĂ©m houve traição, disputas e interesses pessoais. A maçonaria, em suas diversas vertentes, foi um dos motores, mas nĂŁo o Ășnico. A histĂłria Ă© um caleidoscĂłpio de forças e vozes, algumas silenciadas, outras amplificadas. E no Brasil de 1822, todas essas forças se encontraram para, de algum modo, costurar a trama da independĂȘncia. Uma trama que, tal como a maçonaria, sempre guardarĂĄ seus segredos e ambiguidades, deixando-nos a refletir sobre o que realmente significa ser livre.

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